Alunos do 5º Período do Curso de Letras Da Faculdade São MIguel

Alunos do 5º Período do Curso de Letras Da Faculdade São MIguel

sábado, 16 de junho de 2012

A Figura da Mulher como Bruxa e Feiteceira nas Novelas de Cavalarias


1. A mulher no medievo.
O papel da mulher não esteve, ao longo da história, necessariamente em crescente evolução, como muitas vezes se avalia. O que é de conhecimento geral, a partir da criação do Ocidente, principalmente a partir da Cristianização instituída como Igreja Católica, é o estigma fundamentado no domínio patriarcalista da sociedade medieval. Mas há que se compreender que este fato, praticamente oficializado durante o império de Carlos Magno, não corresponde a uma progressão do que antes a mulher vivia na Idade Antiga. As culturas de diferentes povos e tribos, que se situavam em localidades, muitas vezes, longínquas umas das outras, permitiam o desenvolvimento social em direções as mais variadas e em posições distintas, conforme a herança étnica e as tradições cultuadas.
Culturalmente, outros povos (os celtas, por exemplo) consideraram a mulher como represente do Bem. Não foi, no entanto, a única postura diante do elemento feminino e a imagem da Deusa como companheira eterna do Criador. Há registros de outras culturas antigas que, igualmente, delegavam à mulher uma posição de destaque nas atividades em sociedade e em família, estando esta imagem ligada ou não à divindade. Nem sempre o aspecto religioso foi determinante. A capacidade física aparentemente frágil e compleição robusta, ao mesmo tempo, unidas à capacidade geradora de vidas e da reprodução foram fatores de admiração, respeito e até mesmo temor por parte dos homens, em muitas sociedades.

1.1 Matrimônio.
As estratégias matrimoniais tinham por função organizar e controlar as relações sociais. O casamento, sobretudo, não mais era do que um pacto entre duas famílias. A mulher exercia uma passividade esperada pela sociedade: era sua principal virtude. Entretanto, poucas mulheres da aristocracia esquivaram-se dessa sujeição. Algumas damas do século XII e XIII pagaram ao rei somas grandiosas de suas fortunas em troca da escolha de um novo casamento. Os dotes poderiam chegar a valores altíssimos e isso não constituía vantagem para a família da moça, pois instigava uma disputa considerável por parte dos rapazes, o que representava uma ameaça aos bens de família. Devido a esta situação, muitos pais decidiam enviar suas filhas aos conventos, condenando-as a se  tornarem “esposas de Cristo”. Nesta época registrou-se um aumento de estabelecimentos religiosos, em atendimento à estratégia de proteção ao patrimônio familiar. Muitas vezes era menos dispendiosa a união com Deus do que a conjunção matrimonial. Macedo (1990) conclui que o destino das mulheres aristocratas esteve completamente vinculado aos processos de transmissão de bens materiais e econômicos.
Uma vez escolhido o casamento como destino da mulher, é notório como as formas de poder feudo-vassálicas se projetavam na relação conjugal. Amor, afeto e carinho eram manifestações pouco comuns nessas uniões. Segundo Macedo (1990) “a concepção ético-social do amor não se identificava com os compromissos e juramentos constantes nessa forma de casamento” (p. 16). A mulher dirigia-se ao esposo como seu “senhor”, denotando assim a transposição da vassalagem, do amplo domínio feudal, para o restringido meio doméstico.

2. Dualidade da mulher.
A concepção de perfeição da mulher esteve intrinsecamente associada ao culto à Virgem Maria. Entretanto, a popularidade da Virgem não aconteceu ao mesmo tempo da criação da Igreja Católica; desenvolveu-se ao longo da Alta Idade Média e afirmou-se entre os cristãos. No século V, mais precisamente em 431, o Concílio de Éfeso proclamou a imagem de Maria como Mãe de Deus, anulando a imagem anterior de Mãe de Cristo. A inserção e aceitação de seu culto sofreram uma longa evolução, estabelecendo-se, fortemente, por volta do século XI.
A Virgem Maria, no século XII, por meio de Santo Anselmo e de Abelardo, foi celebrada com grande alegria, ao revestir-se do símbolo da redenção feminina, contrariamente à figura de Eva, considerada pecadora. Assim, apreciada a “nova Eva”, trazia o rótulo da pureza, da castidade, da grandeza de alma e de coração, resumindo-se em santidade sua imagem. As mulheres foram, então, extremamente consoladas ao receberem um modelo oposto à primeira Eva, responsável pela perdição de todo o sexo feminino. Sendo assim, o culto marial alcançou enorme popularidade, aparecendo em vários sermões, tratados e poemas feitos em louvor à Virgem.
3. A mulher e a figura de bruxa e feiticeira.

A igreja criou uma moral social, onde prostitutas, cafetões, mendigos, etc. estiveram à margem da sociedade, assim como portadores de deficiências físicas e doenças contagiosas. Eram marginalizadas também mulheres conhecedoras de ervas medicinais, benzeduras e simpatias contra fatos indesejáveis, tidas como bruxas e feiticeiras.
É a partir do século XIV que a mulher recebe o estigma maligno de bruxa. As feiticeiras passaram a ser vistas como servidoras do demônio e o estudo desta “religião” ou culto demoníaco passou a ser objeto de interesse de muitos homens do clero, tornando-o, muito mais do que uma ameaça social, um ataque às forças representadas pela Igreja e por seus membros. A perseguição às mulheres e homens ligados às práticas mágicas começou a tomar forma e, é importante salientar que não somente a Igreja teve grande participação neste processo, mas também os juízes seculares e o próprio povo, que dominado pelo temor à ira de Deus e pela idéia pavorosa do Inferno, muito contribuiu na denúncia, busca e apreensão de supostos criminosos.
As atividades comuns da feiticeira envolvem a utilização de ervas e ungüentos, preparados especiais para diversas enfermidades, principalmente àquelas advindas do coração, sempre necessitadas de orientação psicológica. Dessas atividades resultavam conhecimentos positivos que foram transmitidos da feiticeira greco-romana à sua primeira correspondente ocidental: a feiticeira medieval. Durante a Idade Média, devido ao conceito mental impresso às práticas mágicas, a feitiçaria ficou relegada unicamente ao domínio do Mal.
Um outro aspecto importante a declarar é a necessidade que os homens da Idade Média tinham da existência e presença da feiticeira: ela era como uma terapeuta de males físicos e sociais. Toda a sociedade buscava seus auxílios, desde os mais pobres aos mais abastados e até mesmo a nobreza. Sua atuação em uma aldeia chegava às terras mais distantes e a fama lhe trazia clientes. Portanto, Nogueira (2004) destaca que a consciência medieval retoma da Antigüidade Clássica a ação benéfica da magia, que, por sua vez, fundamenta a existência da boa feiticeira. Esta, na visão popular, utilizava seus conhecimentos oriundos de séculos de práticas acumuladas de feitiçaria para amenizar ou curar enfermidades.
Nogueira (2004) defende a idéia de que a bruxaria, ao contrário da feitiçaria, foi uma prática mágica rural e de caráter coletivo, assumindo no imaginário de uma comunidade um papel bem mais passivo do que a feitiçaria, uma vez que dependia do juízo e da deliberação das próprias pessoas de uma coletividade mesmo para existir. O autor salienta ainda que essas distinções recebem maior ou menor aceitação entre estudiosos de vários segmentos, como a História, a Filosofia e a Antropologia, também tocando nos conceitos da Sociologia. Assim, cita Evans-Pritchard, autor da obra Witchcraft, oracles and magic among the Azande, que tornou clássica para os antropólogos uma distinção entre a feitiçaria e a bruxaria: para Pritchard, a bruxa não necessita de rituais, não pronuncia encantamentos e não utiliza poções ou filtros mágicos; ela se constitui numa ofensa imaginária, isto é, um ato psíquico. As feiticeiras, estas sim causam danos aos homens através de seus rituais e atos maléficos mágicos que ultrapassam a margem do psíquico e alcançam a materialidade em seus resultados.
Elaborado pelo aluno José Kleibson da Silva- 5° Período de Letras da Faculdade São Miguel

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