Alunos do 5º Período do Curso de Letras Da Faculdade São MIguel

Alunos do 5º Período do Curso de Letras Da Faculdade São MIguel

quarta-feira, 13 de junho de 2012

A POESIA DOS ANOS 30 E O ENGAJAMENTO SOCIAL


BARROS, Elaine; GOMES, Luciano; DOURADO, Túlio. A norma culta da língua portuguesa. Maio, 2012.

A POESIA DOS ANOS 30 E O ENGAJAMENTO SOCIAL



Elaine Barros
Luciano Gomes
Túlio Dourado
Alunos de Letras Português/Inglês – 5º período


RESUMO: Este trabalho tem como objetivo analisar as poesias dos anos 30 e o engajamento social registrado na estética dos poetas Carlos Drummond de Andrade e Vinícius de Morais. E como os vultos desta década influenciaram socialmente toda uma geração de poemas dirigidos a um público alvo socialmente excluído e que fazia parte da grande massa nacional de leitores.



PALAVRAS CHAVE: Engajamento, poesia dos anos 30, sociedade.

INTRODUÇÃO:

            Em 1968, a música: Pra Não Dizer Que eu Não Falei das Flores participou do III Festival Internacional da Canção, mais conhecida por “Caminhando e Cantando”. A composição se tornou um hino de resistência do movimento civil e estudantil que fazia oposição à ditadura militar durante o governo militar e foi censurada:Vem, vamos embora que esperar não é saber, quem sabe faz a hora, não espera acontecer”. Este foi o espírito do engajamento social na década de 30. O termo engajado surge num momento de fortes agitações coletivas, o período entre guerras, porém tornasse “historicamente situado” no contexto da literatura a partir do pós-guerra, quando, segundo Denis (2002), a arte literária volta-se às questões de ordem social e política, num “desejo de participar da edificação do mundo”. Outra acepção mais ampla, no entanto, considera o engajamento como uma posição defendida, anteriormente e aquém de qualquer nomenclatura, por escritores franceses como Hugo e Voltaire, atribuindo ao fenômeno um valor “trans-histórico”.

            Voltaire foi o defensor da liberdade de expressão francesa é dele a célebre frase: Posso não concordar com nenhuma das palavras que você disser, mas defenderei até a morte o direito de você dizê-las.  Vitor Hugo por sua vez foi a voz em defesa dos direitos civis por meio da liberdade de fazer literatura sem o pressuposto do julgamento por parte da elite predominante de leitores. Sobre o direito de cidadania em poesia ele diz: “Em poesia não há nem bons nem maus assuntos, somente bons e maus poetas porque tudo é assunto, tudo é do domínio da arte; tudo tem direito de cidadania em poesia”. É dele as obras Les Misérables e Notre-Dame de Paris, entre diversas outras obras. O que é então; um escritor engajado:

“Um escritor é engajado quando trata de tomar a mais lúcida e integral consciência de ter embarcado, isto é, quando faz o engajamento passar, para si e para os outros, da espontaneidade imediata ao plano refletido. O escritor é mediador por excelência, e o seu engajamento é a mediação. Mas, se é verdade que se deve pedir contas à sua obra a partir da sua condição, é preciso lembrar ainda que a sua condição não é apenas a de um homem em geral, mas também, precisamente, a de um escritor ”.(SARTRE, 1993. p. 61-62).

            A literatura dos anos 30 tomou um rumo antagônico com relação a elite dos leitores intelectuais, esta nova direção proporcionou as massas um contato mais restrito com a literatura brasileira que identificou-se com o ideal de uma sociedade igualitária onde os homens comuns teriam acesso a cultura assim como os demais, abrindo as portas desta forma a literatura para um propósito político de combater as diferenças sociais:

“A grande depressão dos anos 30 obrigou a um reexame dos métodos e das finalidades da literatura. Em meio a estagnação econômica e as ameaças de totalitarismo e de guerra, desenvolveu-se a teoria de que a literatura deveria ter um propósito político, que ela deveria condenar a mesquinhez, a crueldade e o barbarismo, além de apontar o caminho para uma sociedade mais justa. Devia ser também uma literatura dirigida não a intelectuais, mais a homens e mulheres comuns. “ (BURNS, 1989, p.711-712)

“As transformações vividas pelo país com a Revolução de 1930 e o consequente questionamento das tradicionais oligarquias, os efeitos da crise econômica mundial e os choques ideológicos que levaram a posições mais definidas e engajadas formavam um campo propício ao desenvolvimento de um romance caracterizado pela denúncia social,  verdadeiro documento da realidade brasileira, em que as relações "eu" mundo atingiam elevado grau de tensão”. (NICOLA, 1989. p. 114)

            Segundo (Cândido 1998) os anos 30 foram de engajamento político, religioso e social no campo da cultura. Mesmo os que não se definiam explicitamente manifestaram na sua obra esse tipo de inserção ideológica. A função do poeta é produzir emoção, é despertar sentimentos em quem o lê, sobretudo sentimentos de união no leitor. A vida mostra complexidade e não se limita a restaurar direitos democráticos ou uma ordem em que as pessoas respeitem a natureza humana. Se os temas dos poetas expuserem, também, os problemas do mundo atual, isso faz com que o leitor sinta a emoção, o sentimento de dor do outro. Esta empatia retratada nos poemas de engajamento social corresponde exatamente ao significado lexical do termo, pois define com precisão a estética da poesia engajada que é construída nesta capacidade do poema em compreender os sentimentos alheios e a reação do outro, foi isto que aproximou as massas a literatura engajada, os temas eram voltados para as necessidades do indivíduo e suas carências pessoais promovidas pela emoção que afloravam da realidade.

            A disposição para o engajamento político e social acendeu uma ansiedade indefectível sobre a função da poesia. Didaticamente, pode-se provocar uma discussão indicando dois temas expostos no livro de Drummond, o social e a metapoesia, termo usado para definir o poema que reflete sobre a própria poesia. E não só Drummond o fez, mas também, João Cabral de Melo Neto, com poemas dramáticos; o poetinha Vinícius de Moraes utilizou o poema como meio de expressar essa temática participativa. Se a temática social era vista como uma obrigação do poeta, a utilização da metapoesia era quase uma necessidade. Esse tipo de poesia veio pra mostrar que nem só de temas como amor, desilusões e sofrimento, desde Platão e Aristóteles que a relação entre poético e político é escrito, afirma Lima (2001):

Tal dialética instaura uma política da escrita no fazer poético, e pode-se dizer que toda poesia é sempre política. Pois forma no leitor, no ouvinte, no espectador, ainda que de forma indelével, uma nova consciência do sensível, criando palavras que sejam a expressão desta sensibilidade e que correspondam a novas formas de percepção da realidade. (LIMA, 2001, p.76)





            No que diz respeito à obra de Drummond, poderíamos falar em quatro momentos: o primeiro seria o Eu maior que o mundo, em que o poeta vê os conflitos sociais mais se mantém um pouco distante. É o que ocorre em Alguma poesia (1930), seu primeiro livro. A partir da segunda fase em que o poeta se volta para o Eu menor do mundo. Nesta fase, Drummond muda o rumo de sua poesia explicitando o seu lado social, enfocando o mundo injusto e brutal, a guerra e o sofrimento e a impotência do homem diante do mundo. Os poemas desta fase encontram-se na obra Sentimento do Mundo (1940). Na terceira fase, Eu igual ao mundo, o itabirano manifesta-se entusiasmado pela política, focalizando o mundo e o homem após a Segunda Guerra Mundial. A obra que se destaca neste período é A Rosa do Povo (1945). Passando da fase da euforia política e social, Carlos Drummond de Andrade, volta-se para seus mitos, ingressando na metapoesia. Nesta fase o poeta tornou-se mais reflexivo, desenvolvendo em seus textos um conjunto de interrogações sobre o vazio à espreita do ser humano. A obra que se sobressaiu neste período foi Claro Enigma (1951).



VISÃO

Meus olhos são pequenos para ver
a distância da casa na Alemanha
a uma ponte na Rússia, onde retratos,
cartas, dedos de pé boiam em sangue.

Meus olhos são pequenos para ver
a fila de judeus de roupa negra,
de barba negra, prontos a seguir
para perto do muro - e o muro é branco.

Meus olhos são pequenos para ver
essa fila de carne em qualquer parte,
de querosene, as ou de esperança
que fugiu dos mercados deste tempo.

Meus olhos são pequenos para ver
a gente do Pará e de Quebec
sem notícia dos seus e perguntando
ao sonho, aos passarinhos, às ciganas.



MAS VIVEREMOS

Já não há mãos dadas no mundo.
Elas agora viajarão sozinhas.
Sem o fogo dos velhos contatos,
que ardia por dentro e dava coragem.

Já não distinguirei na voz do vento
(Trabalhadores, uni-vos...) a mensagem
que ensinava a esperar, a combater,
a calar, desprezar e ter amor.

Hoje quedamos sós. Em toda parte,
somos muitos e sós. Eu, como os outros.
Já não sei vossos nomes nem vos olho
na boca, onde a palavra se calou.

Voltamos a viver na solidão,
temos de agir na linha do gasômetro,
do bar, da nossa rua: prisioneiros
de uma cidade estreita e sem ventanas.

Mas, viveremos. A dor foi esquecida
nos combates de rua, entre destroços.
Toda melancolia dissipou-se
em sol, em sangue, em vozes de protesto.

Já não cultivamos amargura
nem sabemos sofrer. Já dominamos
essa matéria escura, já nos vemos
em plena força de homens libertados.

            Engajamento no poema Morte do Leiteiro de Carlos Drummond de Andrade, A Rosa do Povo (1945):

Há pouco leite no país,
é preciso entregá-lo cedo.
Há muita sede no país,
é preciso entregá-lo cedo.
Há no país uma legenda,
que ladrão se mata com tiro.


Então o moço que é leiteiro
de madrugada com sua lata
sai correndo e distribuindo
leite bom para gente ruim.
Sua lata, suas garrafas
e seus sapatos de borracha
vão dizendo aos homens no sono
que alguém acordou cedinho
e veio do último subúrbio
trazer o leite mais frio
e mais alvo da melhor vaca
para todos criarem força
na luta brava da cidade.

Na mão a garrafa branca
não tem tempo de dizer
as coisas que lhe atribuo
nem o moço leiteiro ignaro,
morados na Rua Namur,
empregado no entreposto,
com 21 anos de idade,
sabe lá o que seja impulso
de humana compreensão.
E já que tem pressa, o corpo
vai deixando à beira das casas
uma apenas mercadoria.

E como a porta dos fundos
também escondesse gente
que aspira ao pouco de leite
disponível em nosso tempo,
avancemos por esse beco,
peguemos o corredor,
depositemos o litro...
Sem fazer barulho, é claro,
que barulho nada resolve.

Meu leiteiro tão sutil
de passo maneiro e leve,
antes desliza que marcha.
É certo que algum rumor
sempre se faz: passo errado,
vaso de flor no caminho,
cão latindo por princípio,
ou um gato quizilento.
E há sempre um senhor que acorda,
resmunga e torna a dormir.



Mas este acordou em pânico
(ladrões infestam o bairro),
não quis saber de mais nada.
O revólver da gaveta
saltou para sua mão.
Ladrão? se pega com tiro.
Os tiros na madrugada
liquidaram meu leiteiro.
Se era noivo, se era virgem,
se era alegre, se era bom,
não sei,
é tarde para saber.

Mas o homem perdeu o sono
de todo, e foge pra rua.
Meu Deus, matei um inocente.
Bala que mata gatuno
também serve pra furtar
a vida de nosso irmão.
Quem quiser que chame médico,
polícia não bota a mão
neste filho de meu pai.
Está salva a propriedade.
A noite geral prossegue,
a manhã custa a chegar,
mas o leiteiro
estatelado, ao relento,
perdeu a pressa que tinha.

Da garrafa estilhaçada,
no ladrilho já sereno
escorre uma coisa espessa
que é leite, sangue... não sei.
Por entre objetos confusos,
mal redimidos da noite,
duas cores se procuram,
suavemente se tocam,
amorosamente se enlaçam,
formando um terceiro tom
a que chamamos aurora.

CONVERSA COM O LIXEIRO

Amigo lixeiro, mais paciência.
Você não pode fazer greve.
Não lhe falaram isto, pela voz
do seu prudente sindicato?
Não sabe que sua pá de lixo
é essencial a segurança nacional?

A lei o diz (decreto-lei que
nem sei se pode assim chamar-se,
em todo caso papel forte,
papel assustador). Tome cuidado,
lixeiro camarada, e pegue a pá,
me remova depressa este monturo
que ofende a minha vista e o meu olfato.

Você já pensou que descalabro,
que injustiça ao nosso status ipanêmico, lebloniano,
sanconrádico,
barramárico,
se as calçadas da Vieira Souto e outras conspícuas
vias de alto coturno continuarem
repletas de pacotes, latões e sacos plásticos
(estes, embora azuis), anunciando
uma outra e feia festa: a da decomposição
mor das coisas do nosso tempo,
orgulhoso de técnica e de cleaning?

Ah, que feio, meu querido,
essa irmanar de ruas, avenidas,
becos, bulevares, vielas e betesgas e tatatá
do nosso Rio tão turístico
e tão compartimentado socialmente,
na mesma chave de perfume intenso
que Lanvin jamais assinaria!

Veja você, meu caro irrefletido:
a Rua Cata-Piolho, em Deus-me-livre,
equiparada à Atlântica Avenida
(ou esta àquela)
por idêntico cheiro e as mesmas moscas
sartrianamente varejando,
os restos tão diversos uns dos outros,
como se até nos restos não houvesse
a diferença que vai do lixo ao luxo!

Há lixo e lixo, meu lixeiro.
O lixo comercial é bem distinto
do lixo residencial, e este, complexo,
oferece os mais vários atrativos
a quem sequer tem lixo a jogar fora.
Ouço falar que tudo se resume
em você ganhar um pouco mais
de mínimos salários.
Ora essa, rapaz: já não lhe basta
ser o confiscável serviçal
a que o Rio confere a alta missão
de sumir com seus podres, contribuindo
para que nossa imagem se redobre
de graças mil sob este céu de anil?

Vamos, aperte mais o cinto,
se o tiver (barbante mesmo serve)
e pense na cidade, nos seus mitos
que cumpre manter asseados e luzidos.

Não me faça mais greve, irmão-lixeiro.
Eu sei que há pouco pão e muita pá,
e nem sempre ou jamais se encontram dólares,
jóias, letras de câmbio e outros milagres
no aterro sanitário.

E daí? Você tem a ginga, o molejo necessários
para tirar de letra um samba caprichado
naqueles comerciais de televisão,
e ganhar com isto o seu cachê
fazendo frente ao torniquete
da inflação.

Pelo que, prezadíssimo lixeiro,
estamos conversados e entendidos:
você já sabe que é essencial
à segurança nacional
e, por que não, à segurança multinacional.



            Analisando o engajamento nos poemas de Vinicius de Morais nota-se que a primeira fase da poesia de Vinicius de Moraes é marcada pela preocupação religiosa, angústia e a vontade de superar as dores deste Mundo. Já a segunda fase, apresenta versos longos com uma linguagem abstrata, alegórica e declamatória.



No sangue e na lama
O corpo sem vida tombou.
Mas nos olhos do homem caído
Havia ainda a luz do sacrifício que redime
E no grande Espírito que adejava o mar e o monte
Mil vozes clamavam que a vitória do homem forte tombado na luta
Era o novo Evangelho para o homem da paz que lavra no campo.

            Vinicius de Moraes também escreveu poesia social, ou seja, uma poesia engajada, preocupada com os problemas enfrentados pela população. Um bom exemplo do envolvimento de Vinicius de Moraes nessa área é o poema Operário em Construção (1956). Nesse poema o escritor usa uma linguagem simples e direta, além de se mostrar solidário com essa classe oprimida. Através de suas palavras o poeta tenta conscientizar os leitores.

OPERÁRIO EM CONTRUÇÃO

Era ele que erguia casas
Onde antes só havia chão.
Como um pássaro sem asas
Ele subia com as casas
Que lhe brotavam da mão.
Mas tudo desconhecia
De sua grande missão:
Não sabia, por exemplo
Que a casa de um homem é um templo
Um templo sem religião
Como tampouco sabia
Que a casa que ele fazia
Sendo a sua liberdade
Era a sua escravidão.
(…)

Mas ele desconhecia
Esse fato extraordinário:
Que o operário faz a coisa
E a coisa faz o operário.
De forma que, certo dia
À mesa, ao cortar o pão
O operário foi tomado
De uma súbita emoção
Ao constatar assombrado
Que tudo naquela mesa

Garrafa, prato, facão
Era ele quem os fazia
Ele, um humilde operário,
Um operário em construção.
Olhou em torno: gamela
Banco, enxerga, caldeirão
Vidro, parede, janela
Casa, Cidade, nação!
Tudo, tudo o que existia
Era ele quem os fazia
Ele, um humilde operário
Um operário que sabia
Exercer a profissão.
Ah, homens de pensamento
Não sabereis nunca o quanto
Aquele humilde operário
Soube naquele momento!
(…)


Engajamento nos poemas de Carlos Drummond Andrade:

JOSÉ

E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, Você?
Você que é sem nome,
que zomba dos outros,
Você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?


Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?
E agora, José?
sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio, - e agora?

Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?


Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse,
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse...
Mas você não morre,
você é duro, José!


Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja do galope,
você marcha, José!
José, para onde?

            Há uma infinidade de interpretações para o poema “José”, esta diversidade parece-nos em alguns momentos premeditada por Drummond, no afã de promover um “despertamento, engajamento”, um grito de socorro aos “Josés” condenados pela sociedade a uma existência solitária, e ao anonimato que não tiveram nenhuma oportunidade de se realizar como homem. Que gritam, protestam, amam, mas têm seu grito sufocado pela indiferença, seu protesto ignorado e seu amor não correspondido, mas que continuam se arrastando pela vida sem saber onde vão chegar. José é um forte: “desejo de participar da edificação do mundo”. (DENIS,2002).

No meio do caminho

No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.

Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra       

            Drummond deixou uma pedra no caminho de todo mundo. Há tempos seus versos vêm se repetindo feito mantra. É que, como se sabe, no meio do caminho tinha uma pedra, tinha uma pedra no meio do caminho. O fato é que existem diversas teorias sobre esse poema. Dizem que pedra é um percalço, um obstáculo. Quem nunca teve uma dificuldade na vida? Drummond teria traduzido esse sentimento coletivo, de forma simples. Pedra também, à vista de alguns, seria uma arma. Sim, Davi matou o Golias com três pedrinhas, pra quem não sabe. Uma pedra no caminho, às vezes, pode ser muito útil para derrubar o gigante. Outros ainda insistem que Drummond queria mesmo era brincar de ser bobo, juntou algumas frases e criou um embaraço na cabeça das pessoas que nunca mais pararam de pensar na tal da pedra. Para (Massaud 2007) “No meio do Caminho” e “José” concentram um mesmo dualismo, ou seja duas realidades opostas:



“No meio do Caminho”, [...] O verso livre corresponde aos propósitos inovadores instaurados em 1922. “José” um dos poemas mais populares de Carlos Drummond, centra-se na mesma dualidade. A problemática social se desabrocha com veemência serena e cauta, a temática política e social. Engajado o poeta utiliza o verso como arma em prol de uma causa redentora. [...](Massaud, 2007, p.)



            O dualismo presente em “José” e “No Meio do Caminho” observa-se na problemática e conflitos pessoais enfrentados pelo indivíduo fruto de um virtude criadora do escritor, misteriosamente pessoal (CANDIDO 2006). E o objetivo empenhado e utilizar-se desta pessoalidade em prol do coletivo.



Bibliografia

BURNS, Edward McNall. História da civilização Ocidental: Do homem das Cavernas às Máquinas Espaciais. Tradução: Donaldson  M. Graschange 30º Edição, Rio de Janeiro, Ed.Globo, 1989.

CANDIDO, Antônio. A Educação pela Noite & outros ensaios. São Paulo: Ática, 1989.

CANDIDO, Antônio. Literatura e Sociedade, Rio de Janeiro, 9ª Edição, Ouro sobre Azul, 2006

DENIS, Benoît. Literatura e engajamento de Pascal a Sartre. Tradução de Luiz D. de Aguiar Roncari. Bauru-SP: EDUSC, 2002.

LIMA, Carlos. Quem tem medo de poesia política? in: 100 anos de poesia: um panorama da poesia brasileira do século XX. RODRIGUES, Claufe e MAIA, Alessandra (orgs.). Rio de Janeiro: O verso Edições, Vol.II, 2001, p.76-81.

MOISÉS, Massaud. A literatura Através Dos Textos, Ed. Cultrix, 26ª Edição, São Paulo, 2007.

NICOLA, José de. Literatura Brasileira das origens de nossos dias. Ed. Scipione - São Paulo - 1989.

SARTRE, Jean-Paul Que é a literatura? São Paulo: Ática, 1993.









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