Alunos do 5º Período do Curso de Letras Da Faculdade São MIguel

Alunos do 5º Período do Curso de Letras Da Faculdade São MIguel

sábado, 9 de junho de 2012

Resenha: A Língua De Eulália


A língua de Eulália
Resumo do Livro : A língua de Eulália Vera, Sílvia e Emília são professoras de um colégio público e universitárias que vão passar férias na casa de Irene, que é Lingüista, e tia de Vera. Ao chegarem, as meninas criticam o Português falado por Eulália – empregada da casa,a partir daí Irene resolve explicar questões lingüísticas a elas e mostra através de aulas que o preconceito lingüístico não possui fundamento pois a história da Língua Portuguesa passou por várias fases e cada uma delas justifica o uso de variedades lingüísticas. Nessa jornada lingüística, vários conceitos são abordados, os principais são: o mito da língua homogênea,ou seja, as variedades lingüísticas existem e precisam ser respeitadas, e o seu uso não deve ser considerado errado, pois são maneiras diferentes de se falar a mesma língua e sua utilização não prejudica o entendimento e tudo que parece erro no Português não-padrão tem uma explicação lógica e científica e incentiva o ensino da norma padrão pois esta foi criada para que exista um modelo de comunicação nacional, no entanto sugere que o ensino desta seja voltado para a Lingüística. O livro busca sempre comparar o Português padrão com o não-padrão para provar que há mais semelhanças que diferenças entre eles.Neste contexto discute que os falantes da norma não-padrão têm dificuldade de aprender a norma padrão, primeiramente porque o primeiro é transmitido naturalmente, já o segundo requer aprendizado e como na maioria das vezes essas pessoas pertencem à classe baixa, abandonam a escola cedo para trabalhar ou desistem de estudar por serem discriminadas lingüisticamente, dessa forma o problema adquiriu grandes proporções. Todavia, a eficácia do Português não-padrão não pode ser negada, pois consegue diminuir as regras gramaticais as tornando mais simples, isso ocorre freqüentemente com o uso de concordância, plural e conjugação verbal.Essa postura não deve ser abominada pois esse processo é comum em muitas outras línguas, mesmo na norma padrão delas como o Inglês, por exemplo. No caso do Português, há ocorrências de vários fenômenos lingüísticos, os principais são: Rotacismo que é a troca de L por R ,este pode ser explicado através da origem das palavras no latim que recebiam R, mas com o passar do tempo essas palavras sofreram modificações, porém alguns falantes não tiveram ciência disso e assim estão preservando os traços do Português arcaico, Yeísmo que é a troca de LH por I, essas mudanças ocorreram devido a ser mais cômodo pronunciar I do que LH, Assimilação é a transformação de ND em N e de MB em M, isso se explica porque essas consoantes são dentais e o som de uma está muito próximo da outra, Redução: ocorre quando as vogais E e O são pronunciadas como I e U, Contração das proparoxítonas em paroxítonas, que não é exclusivo do Português não-padrão que tem um ritmo paroxítono, já que palavras proparoxítonas em Latim passaram a serem paroxítonas também no Português padrão, Desnalização de vogais postônicas que ocorre na norma padrão e não-padrão, caracteriza-se por eliminar o som nasal das vogais que estão depois da sílaba tônica, o que é uma tendência natural da língua, Arcaísmo que surgiu devido ao Português arcaico ter sido ensinado no Brasil, com isso seus traços ainda permanecem em regiões afastadas das metrópoles brasileiras pela falta de contato com as mudanças que surgiram na língua, Analogia que é a mudança lingüística causada pela interfe-rência de uma forma já existente,por exemplo palavras que mudam de classe gramatical por causa do som de uma vogal, e o caso do pronome oblíquo mim como sujeito de infinitivos,com este ocorreu algo interessante pois esse costume foi transmitido dos menos cultos para os mais cultos. Seu uso, entre outras explicações justifica-se pelo pronome mim ser tônico e procurar enfatizar a oração. Com o surgimento desses fenômenos a língua tornou-se mais complexa e quando é necessário aplicar as normas gramaticais novas regras são geradas pelo Português não-padrão que é inovador, a referente à função da partícula se como verdadeiro sujeito da oração é uma delas,dessa forma a ordem sujeito-verbo-objeto é obedecida, embora essa norma não seja aceita pela Gramática Tradicional (neste caso),seu uso é totalmente compreensível pois reúne uma explicação sintática,uma semântica na qual o sentido da oração é respeitado e outra pragmática que aborda o uso que o falante faz da fala para obter determinado efeito. Após a apresentação desses temas o livro questiona o ensino tradicional de Língua Portuguesa e aponta como solução para reduzir o abismo entre o Português padrão e o não-padrão que as escolas incorporem usos lingüísticos novos utilizados pela literatura, aceitem o fim do mito da língua única e admitam que a língua está em constante mudança. O ensino de língua Portuguesa também precisa abordar temas como variantes lingüísticas e fenômenos da língua, para informar o aluno sobre o uso prático da língua, assim evitando preconceitos e nunca deixar de mencionar seu valor social , para instruí-lo quando ele deve usar o Português padrão. Evidentemente essas transformações não acontecerão rapidamente pois há imposições para que o ensino não mude, por parte dos gramáticos que não cansam de criar regras para conservar o Português padrão e em conseqüência disso o distanciam do Português não- padrão.

A LÍNGUA DE EULÁLIA
BAGNO, Marcos. A língua de Eulália: novela sociolingüística, 11ª ed., São Paulo: Contexto, 2001.
O livro de Marcos Bagno conta a história de três professoras e estudantes universitárias que visitam a tia de uma delas, chamada Irene. Esta mora em uma fazenda em Atibaia e é professora universitária já aposentada, de Língua Portuguesa e Lingüística.
No capítulo "Que língua é essa?", Irene dá aulas de Língua Portuguesa para as estudantes. Segundo essa personagem, existe o "mito de unidade lingüística do Brasil", que aprendemos nas escolas, de que no Brasil só se fala o português. Essa idéia é falsa, sem correspondência na realidade, já que, mesmo sendo a minoria da população, existem outras línguas que são faladas por nações indígenas espalhadas em diversas partes do país e por imigrantes estrangeiros que mantém viva a língua de seus ancestrais.
Não existe nenhuma língua que seja uma só. O que chamamos de "português" não é um bloco compacto, sólido, e sim um conjunto de coisas chamadas de variedades, diz Irene. Também compara o modo de falar do português com o modo de falar do brasileiro e suas diferenças fonéticas, sintáticas, lexicais, semânticas e no uso da língua. Outras diferenças também existem em grau menor entre o português falado no Norte-Nordeste e o falado no Centro-Sul. Além das variedades geográficas, existem as variedades de gênero, sócioeconômicas, etárias, de nível de instrução, urbanas, rurais, etc. Se quisermos ser mais exatos na hora de dar nome a uma língua, teríamos que levar em conta todas essas variáveis. É como se cada pessoa falasse uma língua.
Afirma Irene, ainda, que toda língua muda e varia. Quer dizer, muda com o tempo (diacrônica) e varia no espaço (diatópica). Muda com o tempo, porque a língua que falamos hoje no Brasil não é a mesma do início da colonização e provavelmente também é diferente da língua que será falada aqui mesmo dentro de trezentos ou quatrocentos anos. E é por isso que não existe a língua portuguesa: o que existe é a norma-padrão, que é aquele modelo ideal de língua que deve ser usado pelas autoridades, pelos órgãos oficiais, pelas pessoas cultas, pelos escritores e jornalistas, aquela que deve ser ensinada e aprendida na escola. Essa norma, ao longo do tempo, se torna objeto de um grande investimento. No processo de cristalização da norma-padrão, a língua é analisada pelos gramáticos; definida pelos dicionários; imposta por decreto-lei pela Academia de Letras e divulgada pelos autores de livros didáticos. Por isso é que a norma-padrão parece ser mais rica, mais complexa que as demais variedades. Mas se esse investimento fosse aplicado a qualquer uma das variedades faladas no país, ela também enriqueceria e se tornaria o que se costuma chamar de "língua culta".
Irene continua explicando que, no momento que se estabelece uma norma padrão, ela ganha tanta importância que todas as demais variedades são consideradas "impróprias", "erradas" e "feias". Os motivos que levam determinada variedade a servir de base para o padrão não tem nada a ver com as qualidades intrínsecas, internas, lingüísticas dessas variedades e sim por motivos históricos, econômicos e culturais.
Irene afirma, então, que existe um português padrão (PP) que é usado para a literatura, nas escolas, etc; e um português não-padrão (PNP) que é falado pela grande maioria de pobres e pelos analfabetos. Por ser utilizado por pessoas de classes sociais marginalizadas e oprimidas pelas injustiças sociais que impera no Brasil, o PNP é vítima dos mesmos preconceitos que pesam sobre essas pessoas. A criança que chega à escola falando o PNP é considerada uma "deficiente" lingüística, como se sua bagagem lingüística refletisse conseqüentemente uma inferioridade mental. Isso cria um sentimento de rejeição, levando o aluno a considerar-se incapaz de aprender qualquer coisa. O domínio da norma-padrão é uma forma que esse falante de PNP tem de ter acesso aos bens econômicos, políticos e culturais reservados à elites dominantes.
Como podemos ver, trata-se de um problema amplo e complexo que passa pela transformação radical do tipo de sociedade em que vivemos. Se conhecêssemos melhor o português não-padrão, talvez conseguíssemos identificar as diferenças que o distinguem do português padrão. Irene diz que o PNP deve ser encarado como aquilo que ele realmente é: uma língua bem organizada, coerente e funcional.
Irene comenta que na tentativa diária da aceitação das diferenças, devemos incluir também uma língua diferente da nossa, sendo humildes e tentando ver o que os falantes do PNP têm a nos ensinar sobre nós mesmos.
Ensina ainda que a noção de "erro" deve ser reservada para problemas individuais. Se alguém, ao invés de dizer cavalo diz cafalo estará cometendo um erro, porque essa palavra não faz parte do registro de variedade do português do Brasil. Porém, se disser pranta no lugar de planta não é um erro, esse é um fenômeno chamado de rotacismo, que acontece em diversas regiões do país e que participou da formação da língua portuguesa padrão ao longo dos séculos. Para chegar a tal constatação deve-se: comparar o PNP com outras línguas e mostrar que nelas também ocorreram fenômenos semelhantes; buscar na história da própria norma-padrão as explicações para determinar características que aparentemente são exclusivas do PNP. Da mesma maneira que o latim se transformou lentamente nas diversas línguas românicas hoje existentes, também cada uma delas continua se transformando.
Irene afirma que a diferença do português-padrão para o português não-padrão é que este é: natural, transmitido, apreendido, funcional, inovador, tem tradição oral, estigmatizado, marginal, tem tendências livres e é falado pelas classes dominadas. Já o português padrão é: arbitrário, adquirido, aprendido, redundante, conservador, tem uma tradição escrita, é prestigiado, é oficial, tem tendências refreadas e é falado pela classe dominante.
Segundo Irene, existem muito mais semelhanças do que diferenças entre as variedades, porém as pessoas escolarizadas não enfatizam as diferenças lingüísticas, mas sim as diferenças sociais. Daí nasce o preconceito lingüístico.
Finalmente, Irene diz que por mais que sejam refreadas, as forças de mudanças internas da língua nunca param de agir; e conta que foi do latim vulgar que surgiu, com o passar do tempo, todas as línguas românicas. A minha visão é muito clara a respeito das variáveis ou dialetos, já que isso acontece com outras línguas, como o inglês e o italiano, além do português. No Brasil, de um modo geral, temos definição nas regiões Sudeste e Sul, que têm um nível cultural, econômico e político mais elevado e, por essa razão, usam a norma-padrão. Na região Nordeste, onde encontramos estados econômica e culturalmente pobres, sua fala é vista como "engraçada", "divertida"e "pitoresca", sendo muitas vezes desprezada, pelos falantes do Sudeste. Mas, se formos para o interior do estado do Rio de Janeiro, poderemos observar essa variedade peculiar da população pobre e marginalizada. Assim como no interior dos estados de São Paulo e Minas Gerais encontramos os caipiras tão ridicularizados, pelos moradores das grandes cidades. No interior do Rio Grande do Sul, vamos encontrar a fala do imigrante italiano e alemão, no Norte do país, a fala do índio, que são variedades significativas da língua portuguesa falada no Brasil.Podemos concluir, feita a leitura do capítulo que essas variedades geográficas, culturais, urbanas, etc. estão intimamente atreladas ao poder socioeconômico. É culto e importante quem sabe a norma-padrão, sem se levar em conta a bagagem de conhecimento e sabedoria, que muitas vezes são abafadas pelo preconceito. Por esses falantes da variedade serem desconsiderados, por não terem seus direitos lingüísticos reconhecidos e sendo obrigados a assimilar uma variedade que é estranha a eles, por nossa escola não conhecer uma multiplicidade de variedades do português e tentar impor a norma-padrão para todos os alunos, sem procurar saber em que medida ela é na prática uma "língua estrangeira", cabe a todos o professores, já que se servem da língua como meio de transmissão dos conteúdos, a transformação do modo de olhar as variedades não-padrão em todos os campos da educação, sendo tarefa de todos e não apenas dos professores de língua portuguesa. 
Este texto foi elaborado pela aluna, Alcileide Barbosa de Almeida Alves.
5º Período de Letras/ Faculdade São Miguel.

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